segunda-feira, 20 de abril de 2009

A separação dos pais: a reação dos filhos pequenos

Por Ana Maria Rico - Psicóloga

Muito antes de ocorrer a separação física dos pais, ocorre a separação emocional que, em muitos casos, leva a desentendimentos, desencontros, quando não, às agressões físicas e à violência psicológica.

A criança que presencia estas cenas sofre muito, pois trata-se das pessoas que mais ama e necessita. Até mesmo bebês muito novos, embora não tendo compreensão da situação, conseguem captar a tensão do ambiente familiar e "saber" que algo está muito errado, expressando seus sentimentos através do choro e agitação, inclusive com alteração dos batimentos cardíacos e aumento da pressão arterial.

Em todos os casos, mesmo percebendo a infelicidade dos pais, a separação é sempre um impacto muito doloroso e profundo, que deixa marcas.

As crianças em idade pré-escolar parecem ser as mais atingidas aos efeitos negativos da separação, porque seu desenvolvimento cognitivo ainda não lhes permite compreender o que está acontecendo.

Assim, bebês até dois anos podem desenvolver atitudes mais medrosas e certa regressão, enquanto crianças de quatro e cinco anos podem fantasiar a separação como temporária, tal e qual quando brigam com seus amiguinhos e depois fazem as pazes. Mas, a criança de cinco e seis anos, tende a se sentir culpada, como se tivesse feito ou pensado algo muito errado e por isso os pais brigaram e vão se separar. Desenvolve, então, um sentimento de responsabilidade pela reconciliação dos pais, muitas vezes apresentando atitudes de autopunição, como se merecesse sofrer por ter falhado.

A criança em idade escolar tem compreensão melhor dos problemas paternos e das razões para a separação, embora muitas vezes sinta-se abandonada e com raiva deles. Em muitos casos, o rendimento escolar é prejudicado e surgem problemas de comportamento em casa e na escola, torna-se impulsiva, desrespeitando as regras familiares, ao mesmo tempo que demonstra maior dependência e ansiedade.

Os conflitos conjugais e a separação colocam os pais num tal estado de preocupação e perturbação, que fica difícil dar assistência emocional aos filhos, agravando ainda mais o desespero, a angústia e a insegurança deles.

O primeiro ano após a separação é o mais devastador e crucial para todos. Seja qual for a figura parental que obteve a custódia dos filhos, os problemas se acirram com muita intensidade até aproximadamente o segundo ano quando, então, podem começar a declinar.

É que com a separação, os pais encontram novos problemas e dificuldades ante a administração e adaptação da nova vida. Geralmente decai o orçamento doméstico o que acarreta mais mudanças significativas em todo o contexto familiar, intensificando a frustração, mágoa e raiva. O filho sente falta da presença da figura parental ausente, enquanto aquele que ficou com a custódia tende a ser mais frio e insensível com a criança, por vezes não impondo limites em seu comportamento ou, ao contrário, castigando-a por qualquer motivo pela dificuldade de se comunicar com ela e lhe dar apoio.

De um modo geral, as crianças podem ficar deprimidas, tristes, desobedientes, apresentar comportamentos mais agressivos e rebeldes, insônia, pesadelos, alterações do apetite, dificuldade de concentração e perda do interesse pela vida social.

·                         "O casamento é como uma longa viagem em um pequeno barco a remo: se um passageiro começar a balançar o barco, o outro terá que estabilizá-lo; caso contrário, os dois afundarão juntos". (David Reuben).

 

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