(Matéria publicada no site www.terra.com.br/dnews)
Por Ima Sanchés
Francesc Fígols tem 64 anos. É casado, com três filhos - Daniel, Miguel e Gerard. É engenheiro industrial dedicado à ciência. Na política, tem inclinações esquerdistas, mas sem voto fixo. Ele crê que a divindade é uma semente no interior de cada ser humano, que somos responsáveis por desenvolvê-la, e que a Terra tem alma.
Confira a entrevista em que ele aponta uma nova teoria da evolução:
La Vanguardia: Um engenheiro industrial ligado à terra?
Fígols: Desde pequeno, trabalhei com meu tio no campo, na terra. Conheci a era anteriores aos tratores, quando o camponês saía de casa ao amanhecer, acompanhado de sua mula.
La Vanguardia: E o senhor o fazia com paixão?
Fígols: Sim, tinha paixão por aprender sobre ela. Muito mais tarde, no final dos anos 70, descobri a agricultura biológica dinâmica, por influência de agrônomos franceses, alemães e suecos.
La Vanguardia: Descobriu algo de novo?
Fígols: Descobri com assombro que eles haviam recuperado as antigas práticas do uso do esterco e de consideração dos ritmos lunares, mas em nível completamente científico, depois de diversos estudos.
La Vanguardia: Compreendo.
Fígols: Mas o que mais me interessou foi que o paradigma científico do qual partiam era distinto do oficial, e estava vinculado à corrente de naturalistas nascida com Goethe, o gênio literário cujas propensões científicas são quase desconhecidas, e sua lei da polaridade.
La Vanguardia: Do que se trata?
Fígols: Da dialética entre princípios opostos. Uma lei universal que se aplica ao conhecimento dos processos de germinação, crescimento e evolução. Lei que se manifesta de múltiplas maneiras: luz e escuro, forças cósmicas e forças terrestres, macroevolução ascendente e microevolução adaptativa, cosmos e Gea.
La Vanguardia: O senhor que dizer com isso que Gea está diretamente relacionada ao cosmos?
Fígols: Várias décadas antes que Lovelock falasse de sua hipótese Gaia, esses cientistas já consideravam o planeta como um ser vivo que evoluía em forma de todo, e tratavam de curá-lo por meio de práticas agrícolas que também levam em conta o céu.
La Vanguardia: E sobre essa base o senhor escreveu uma nova teoria da evolução?
Fígols: Sim, mas o primeiro impulso para escrever sobre a teoria da evolução me ocorreu no dia em que meu filho de nove anos foi encarregado de começar uma redação com a frase "o homem no passado era um macaco que vivia nas árvores".
La Vanguardia: E não é assim?
Fígols: Essa frase não descreve um fato, mas a deformação de uma teoria. Não é difícil detectar falhas importantes na teoria neodarwinista dominante; muitos dados de microbiologia e paleontologia a contradizem. Dados dos quais se aproveitam os proponentes do chamado "criacionismo", que nega a evolução.
La Vanguardia: O senhor propõe um terceiro caminho?
Fígols: Não sou ingênuo a ponto de propor resposta definitiva aos grandes enigmas da ciência, como, por exemplo, o das leis que regem a evolução ou o da origem do homem, mas creio que seja necessário abrir novas pistas ao pensamento.
La Vanguardia: Prossiga.
Fígols: No meu livro, Cosmos y Gea, parto do estudo de uma série de enigmas situados na fronteira entre a matéria e a vida e chego a uma nova relação entre a física e a biologia para tratar da questão fundamental: qual é a origem da vida?
La Vanguardia: E qual é a resposta?
Fígols: Relato as pesquisas em busca das leis próprias daquilo é vivo, conectadas intimamente tanto às forças terrestres quanto às provenientes do cosmos distante. E proponho novas hipóteses para os enigmas clássicos da origem das espécies, as extinções catastróficas maciças e o surgimento do Homo sapiens.
La Vanguardia: Surgimento?
Fígols: Sim, surgimento. Defendo a hipótese de que o homem é o protótipo ou a célula mater de toda evolução terrestre; ou seja, não evoluímos a partir de qualquer organismo especializado.
La Vanguardia: Não viemos dos macacos, dos vertebrados, dos peixes?
Fígols: O homem tem sua própria origem, independente, que ainda hoje podemos testemunhar no desenvolvimento do embrião humano.
La Vanguardia: Ao que o senhor se refere?
Fígols: A embriologia demonstrou que os símios possuem características humanas essenciais, mas o feto humano nada tem de macaco ou outro animal conhecido.
La Vanguardia: Para onde nos leva essa observação?
Fígols: Com base em seu aspecto atual, o homem representa o mamífero bípede primordial, com um cérebro grande, surgido de uma forma primógena que serviria de origem a todos os animais vertebrados.
La Vanguardia: Explique melhor.
Fígols: As constatações embriológicas e anatômicas são bastante contundentes, mas os paleontólogos sempre se obcecam por encontrar o antepassado símio. A verdade é que todos os fósseis encontrados mostram que eles são claramente seres pós-humanos, ou seja, formas surgidas de um ascendente humano e comprometidas em um processo natural de desumanização.
La Vanguardia: Causado por quê?
Fígols: Segundo Westenhöfer, a perturbações climáticas e grandes acidentes geológicos que forçaram uma mudança de alimentação.
La Vanguardia: Surpreendente.
Fígols: Poderíamos propor que o propósito remoto da evolução talvez fosse o surgimento e desenvolvimento do homem na Terra. De forma que aquilo que vemos em nosso redor como reinos mineral, vegetal e animal não seriam nossos antecedentes, mas os restos deixados no percurso de um ser arquetípico.
La Vanguardia: O senhor quer dizer que já chegamos ao final do percurso?
Fígols: Depois de uma longa evolução histórica, chegamos à consciência de nós mesmos e à liberdade de escolha. Ou permanecemos nos vendo como simples criaturas da natureza ou recordamos nossas verdadeiras origens e progredimos rumo a um novo desenvolvimento.
Tradução: Paulo Migliacci ME
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