quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SIMPLICIDADE VOLUNTÁRIA

Seja sincero: você abriria mão de um apartamento de cobertura por um quarto
de 14 metros quadrados? Tem muita gente por aí trocando o luxo pelo básico,
na tentativa de levar uma vida mais simples. Mas será que viver com menos
pode mesmo tornar a gente mais feliz?

Jorge, Jefferson e Paulo conseguiram alcançar o que a maioria das pessoas
deseja: um trabalho com boa remuneração.

Mas, como boa parte das pessoas que conquista uma "posição", eles não
tinham tempo para desfrutar o que ganhavam, nem prazer no que faziam. Hoje,
os três vivem com bem menos dinheiro e se dizem muito mais felizes. Eles
adotaram a filosofia da "simplicidade voluntária".

A simplicidade voluntária começou a ser divulgada na internet. Hoje,
reuniões acontecem em várias capitais do país, pelo menos uma vez por mês.
São grupos de, no máximo, oito pessoas, que se reúnem pra discutir como
viver de maneira mais simples, como viver "com menos". Menos o que?

"Menos expectativa, menos perfeccionismo, menos sapatos, menos roupas,
menos consumismo, menos desperdício, menos desejos", relatam os
participantes de uma destas reuniões.

Jorge Mello é o fundador do movimento no Brasil. Deixou a carreira de
executivo de um grande banco em Brasília e hoje ganha a vida como terapeuta
corporal e professor de artes marciais, em Porto Alegre.

Por opção, trocou o conforto de uma cobertura para morar num quarto de 14
metros quadrados! E ainda divide o apartamento com a irmã, a cunhada e os
sobrinhos.

"Eu não sinto falta das coisas, em absoluto. Até estou diminuindo. O
computador vai ser doado agora. A gente tem um comunitário", diz Jorge.

Todo mundo sonha em ter um carro. Jorge tinha um carro, duas motocicletas e
vendeu para simplificar a vida. Por quê?

"Eu não tenho a ilusão de que os carros têm só vantagens. Eu não tenho
preocupação com estacionamento, eu não tenho preocupação com roubo de
carro. Eu faço tudo aquilo que eu faria com o carro de ônibus".

Levar mais tempo nos deslocamentos e as ameaças de chuvas são os dois
únicos fatores contrários, segundo ele. "Eu aproveito esse tempo e vou
ouvindo música, ou estudo um idioma, eu vou ouvindo, ou eu vou fazendo a
agenda. Eu uso esse tempo para alguma coisa útil", comenta.

Viver com menos, explicam os adeptos, é ter mais tempo livre para o que
realmente interessa: "Cuidar da saúde, cuidar do autoconhecimento, cuidar
da família e dos relacionamentos", observa o professor universitário Paulo
Roberto da Silva.

Para isso, Paulo largou o emprego em um banco de investimentos e virou
professor universitário em Niterói. Abandonou os ternos, o cartão de
crédito e o celular.

"Vi que microondas não era tão interessante. Comecei a fazer um curso de
alimentação. Estou há quase seis meses sem passadeira e estou conseguindo
me virar bem sem ela", diz.

Jefferson e Adriana moravam em uma casa de três quartos com garagem para
três carros e poderiam continuar morando nesse padrão. Mas não: eles
preferiram se mudar para um sobrado que tem a metade do tamanho. Tudo isso
para simplificar a vida.

"Eu dou conta do que eu tenho. As plantas, por exemplo, como eu não tenho
muitas, eu posso ter uma relação muito mais pessoal, intensa, duradoura com
cada uma", afirma o geógrafo Jefferson da Costa. "Os livros, se eu não
tenho muitos, a minha relação com eles é constante. Eu os revisito muitas
vezes".

"Nossos pais preferem viver de uma maneira mais simples do que os pais das
minhas amigas. Toda hora as minhas amigas vão ao shopping, as mães querem
que elas tenham um monte de roupa, e meus pais não querem isso", diz uma
das filhas de Jefferson.

Jefferson só se permite ter um numero determinado de calcas e blusas no
guarda roupa. "Na verdade, são cinco calças, de oito a dez camisas e cinco
camisetas".

"A gente pensa, olha, pensa bem se vai precisar, não sai comprando e depois
não usa", diz a outra filha.

"As amigas falam que a gente é alienígena", concorda a irmã.

"Quanto mais você tem, mais as pessoas olham para você com olho grande. E
se você não tem muita coisa, você se sente à vontade, tranqüilo", diz o
geógrafo.

A simplicidade voluntária só tem uma regra fundamental: não pode sofrer.

"Não adianta eu esvaziar o meu armário e ficar agora: 'O que eu faço? Foi
tudo embora?' Acho que, dentro de você, você tem que achar o que de tudo
isso eu posso abrir mão, e o que fica que vai me deixar feliz?", comenta a
professora Adriana Laszlo.
E você, conseguiria viver com menos? Faça o teste abaixo e descubra!

Checklist de compras:

- Pense em três coisas e, que você aplicou seu dinheiro / energia de vida
no último mês;
- Reflita e avalie sobre cada item, respondendo às questões abaixo.
- Faça uma lista de três coisas que você pretende adquirir no futuro
próximo;
- Reflita e avalie sobre cada item, usando as mesmas questões.
- Eu preciso disso?
- Quanto disso eu já tenho?
- O quanto eu utilizo?
- Qual sua durabilidade?
- Eu poderia usar pro empréstimo de um amigo ou membro da família?
- Há algo que eu já possua que eu possa usar como substituto para isso?
- Posso fazer o que pretendo sem usar isso?
- Sou capaz de limpar e/ou fazer a manutenção disso?
- Desejo fazê-lo?
- Sou capaz de consertar isso?
- Pesquisei por qualidade e preço antes de comprar?
- Como irei me desfazer quando não mais utilizar?
- Os materiais de que é feito são renováveis?
- É feito de materiais recicláveis e é reutilizável?

Após responder às perguntas, quantos dos itens avaliados você compraria?

E o que você pode aprender com isso sobre os seus hábitos de consumo?

Fonte: New Road Map Foundation ? Seattle, WA, EUA.

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