quarta-feira, 29 de abril de 2009

Você sabe como funciona a internet pela rede elétrica?

Juliana Oliveira (FOLHA ON-LINE)

SÃO PAULO (SP) - No último dia 13 de abril, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) regulamentou a resolução 527/2009 sobre o uso comercial do BPL (do inglês Broadband over Power Line) ou PLC (Power Line Communication), tecnologia que permite compartilhar a infraestrutura da rede de energia elétrica para acessar internet. Isso significa que, em vez dos modems convencionais para conexão ADSL, cabo ou 3G, o usuário terá à disposição uma outra solução que permite a utilização de um equipamento específico para navegar na web por meio da rede de eletricidade comum.
Segundo os fabricantes dos modems para esse tipo de acesso, pelo BPL é possível alcançar transmissões de até 200 Mbps. No entanto, diversos testes realizados pela Anatel concluíram que a velocidade média não ultrapassa 20 Mbps. De posse do equipamento, que ainda não está disponível para compra no mercado, o usuário irá conectá-lo ao fio do computador, que por sua vez será plugado na tomada receptora de energia.
Como a rede de eletricidade é compartilhada, as concessionárias de serviço, juntamente com as provedoras de acesso, também necessitam implantar um outro modem PLC, conhecido como Master, na infra da rede elétrica secundária da baixa tensão. Por meio de filtros, para que não haja interferência com a frequência da energia usada para alimentar os aparelhos eletrônicos, a transmissão de dados, voz e vídeo é feita.
A principal vantagem da banda larga BPL é conseguir alcançar lugares muitos distantes, onde os outros meios para acesso internet não chegam. Outro fator é a inclusão digital, visto que 97% dos domicílios brasileiros têm eletricidade, e a meta do governo, por meio do programa “Luz para todos”, é ampliar para 100% das residências até 2010.
No entanto, apesar do aval da Anatel, o imbróglio que vem se desenrolando desde 2006 apenas será concluído a partir do segundo semestre. A regulamentação que passou na autarquia agora está em audiência pública na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A data limite para as considerações é 13 de maio - para só então obter um resultado concreto da aprovação. De acordo com a Anatel, um dos pontos que estão sendo avaliados é como as empresas de eletricidade poderão atuar. O que se sabe é que muitas precisarão obter licença para operar Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). Somente depois é que elas poderão atuar nesse mercado. Algumas já obtiveram essa autorização.
InvestimentosConcessionárias de energia correm para levar uma fatia do bolo da internet. A AES Eletropaulo Telecom, por exemplo, vem testando a tecnologia desde novembro de 2007. No projeto-piloto, que inclui 300 prédios e 150 residências, foram investidos R$ 20 milhões.
Na região metropolitana de São Paulo, a companhia tem mais de dois mil quilômetros de fibra óptica instalados. No entanto, a empresa deixa claro que seu principal interesse é atingir prestadoras de serviço. “É importante salientar que vamos oferecer as soluções para os nossos clientes, no caso as operadoras e prestadoras de serviços de telecomunicações”, explica Teresa Vernaglia, diretora-geral, da AES Eletropaulo Telecom.
Já a Companhia Paranaense de Energia (Copel) começou seu projeto no começo deste mês. Inicialmente, 300 usuários do município de Santo Antonio da Platina, região a 370 km de Curitiba, já plugaram seus computadores na tomada e começaram a navegar.
Outra região que utiliza a intenet via BPL é o município de Barreirinhas, no Maranhão. Encabeçada pela Companhia Energética do Maranhão (Cemar) e coordenada pela Fitec e Aptel (associação de empresas proprietárias de infraestrutura e sistemas privados de telecomunicações), a iniciativa tem como principal meta a inclusão digital. Na cidade, serão criadas 14 ilhas digitais em pontos de prestação de serviços (escolas, bibliotecas, postos de saúde, prefeitura e secretarias).
Enquanto as empresas de eletricidade tiram do papel seus projetos, algumas provedoras de telecomunicações preferem não se manifestar, caso da Telefônica e da Oi. Já a GVT foi categórica ao afirmar que não tem planos de investir nessa área.
De acordo com Alcides Troller Pinto, vice-presidente de marketing e vendas da GVT, os testes que vêm sendo realizados há anos no Brasil ainda não comprovaram a viabilidade comercial do serviço. Durante teleconferência de apresentação dos resultados financeiros, realizada na última semana, o executivo afirmou ainda que a “operadora quer ter certeza da qualidade das conexões de internet”, algo que, segundo ele, a companhia não teria garantia caso utilizasse a rede de terceiros.
CustoMas o que muda efetivamente com a entrada desse novo sistema de acesso banda larga no mercado? Só o que os especialistas do setor têm certeza é sobre uma possível inclusão digital que a tecnologia poderá proporcionar. Quanto ao preço, isso é relativo. Dois fatores devem ser levados em conta: o quanto as telcos terão de investir para usufruir da rede das concessionárias – algo ainda em estudo - e como se dará a permissão de uso. “Muitas empresas, especialmente as provedoras de acesso, ainda aguardam a decisão da Aneel para estruturarem seus planos de negócio”, explica Marcos de Souza Oliveira, gerente de Engenharia do espectro da Anatel. Adir Araújo Pinto, gerente de negócios Fitec, empresa que prestou consultoria para AES Telecom, Celg (de Goiás) e Cemar, explica que o BPL é uma solução complementar para as empresas. “O objetivo não é substituir as tecnologias, sendo uma oferta em detrimento da outra, mas sim, ampliar a gama de produto e servir como um fator de inclusão digital”.
Embora Araújo prefira não precisar valores exatos do quanto seria a redução do preço para o usuário final, ele garante que o valor pode cair sim. “Mas isso vai depender de cada companhia”, diz.
Já a Copel considera como estratégia para o futuro cobrar apenas pelo uso efetivo que o usuário fizer do serviço, tal como acontece com o consumo de eletricidade. "Hoje, o consumidor paga um preço determinado pela capacidade e velocidade da sua conexão, não importando se ele a utiliza bastante, pouco ou quase nada", afirma Orlando César de Oliveira, coordenador do projeto de BPL. E complementa: "Imaginamos ser perfeitamente possível implantar um sistema de cobrança mais justo, que leve em conta a utilização real e efetiva do internauta".
Nas simulações feitas pelo coordenador do projeto de BPL, a modificação na forma de cobrança pode resultar numa redução à metade dos preços cobrados hoje pelos sistemas convencionais de conexão. "Isso fará do sistema uma modalidade de conexão bastante acessível e extremamente competitiva dentro do mercado de telecomunicações no futuro", conclui o executivo.

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